O balanço do mercado imobiliário pós-pandemia, o papel do setor para o crescimento do Brasil e os desafios para o futuro. Esses foram alguns dos temas debatidos por incorporadores e executivos do mercado financeiro e de empresas de tecnologia durante a 5ª edição do Incorpora, Fórum Brasileiro de Incorporadoras, realizado pela ABRAINC, nesta quinta-feira (29/09), no Hotel Unique, em São Paulo (SP).
Luiz França, presidente da ABRAINC, fez a abertura do evento, que teve como tema “mercado imobiliário como indutor do crescimento do Brasil”, e contou também com as participações de Antonio Setin, presidente da Setin Incorporadora, José Ramos Rocha Neto, presidente da Abecip, e Gilson Finkelsztain, presidente da B3.
O presidente da ABRAINC ressaltou que o setor de incorporação continuará como uma das alavancas do crescimento nacional e que a demanda por imóveis seguirá firme, independente do resultado das próximas eleições. “O setor seguirá como protagonista no processo de crescimento do PIB e geração de emprego e renda”, disse.
Após apresentar um balanço sobre os desafios enfrentados pela economia brasileira ao longo dos últimos anos, França afirmou que o cenário macroeconômico é positivo para o futuro, com previsão de queda ainda maior da inflação e redução da Selic.
Na sequência, Antonio Setin comentou sobre o aumento dos custos no setor, decorrentes da desorganização causada pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, e destacou que o país fez a lição de casa corretamente para superar os desafios de forma rápida. “O IPCA e o INCC, índices que norteiam nosso setor, estão em uma projeção de queda muito visível”.
Setin também ressaltou a preocupação do setor com a sustentabilidade. “Há um movimento crescente de conscientização sobre o impacto das edificações no meio ambiente, o quanto emitimos de gases do efeito estufa, e como podemos contribuir para as metas climáticas.”
José Ramos Rocha Neto, presidente da Abecip, apresentou dados sobre o crédito imobiliário e afirmou que 2022 será o segundo melhor ano da história em relação ao volume concedido. “Caminhamos para ter R$ 244 bilhões financiados para o mercado imobiliário no Brasil, perdendo apenas para 2021, que apresentou recorde histórico”.
Rocha Neto ainda destacou o crescimento de 5% no crédito concedido para imóveis novos de janeiro a agosto de 2022, no comparativo com o mesmo período do ano passado e os baixos índices de inadimplência do financiamento imobiliário, “menores até do que no crédito consignado”, afirmou.
O presidente da B3, Gilson Finkelsztain, abordou o crescimento da LIG e LCI, fontes alternativas de funding para o setor, explicou sobre a plataforma Block, de gestão de garantias, e destacou a aceleração da digitalização trazida pela pandemia. “O cenário é promissor para 2023”, disse.
Tendências para o mercado imobiliário
O segundo painel do Incorpora contou com apresentação da pesquisa “Tendências para o mercado imobiliário”, realizada pela Brain Inteligência Estratégica. O CEO da empresa, Fábio Tadeu Araújo, disse que o mercado demonstrou-se muito mais resiliente do que todos imaginavam nesse período de pandemia.
“62% dos 356 empresários atuantes no setor que foram entrevistados acreditam que a conjuntura do mercado imobiliário em 2023 estará um pouco ou muito melhor que a deste ano. Além disso, 55% disseram que as vendas de 2022 estiveram de acordo ou acima das metas previstas no início do ano”, explicou Fábio.
A pesquisa também mediu as percepções de 850 pessoas que adquiriram imóveis nos últimos 12 meses, em todas as regiões do país. “78% dos entrevistados disseram que a residência é o local em que mais gostam de estar”.
Desafios dos setores de incorporação e financeiro
Mediado pelo jornalista Willian Waack, o terceiro painel reuniu CEO’s de empresas Associadas ABRAINC para debater os principais desafios do setor de incorporação. Participaram Diego Villar, da Moura Dubeux, Leandro Melnick, da Even, e Ricardo Ribeiro Valadares Gontijo, da Direcional. Foram destacadas a importância do imóvel para uma maior qualidade de vida, as características sociais e culturais para produção de empreendimentos em cada região do Brasil, além do engajamento crescente do setor em relação às premissas ESG.
Gontijo destacou o poder transformador da moradia, e reforçou que o setor não muda apenas as paisagens urbanas do Brasil, mas transforma a vida das pessoas, dando mais qualidade a quem compra um imóvel “Atendemos famílias que muitas vezes não têm acesso sequer a um esgoto tratado. Além de impactar positivamente a vida das pessoas, nossa atuação está diretamente ligada às premissas ESG, tanto em relação à proteção do meio ambiente como na promoção de melhorias à sociedade”.
O CEO da Even disse que apesar da valorização constante dos imóveis, os ativos imobiliários no Brasil ainda são baratos, e por isso o momento é bom para quem quer comprar. “Quando descontada a inflação, o valor de um imóvel hoje está 31% abaixo da inflação registrada nos últimos 8 anos”, explicou.
Diego Villar destacou a importância e o crescimento do mercado imobiliário nordestino. “o Nordeste é um termômetro do setor, pois há agora uma cultura de casa na praia na região e apenas quem confia nos fundamentos macroeconômicos de um país faz este tipo de investimento. E esse é um mercado que ‘explodiu’”.
O quarto painel do evento reuniu Júlio Paixão, diretor de Empréstimos e Financiamentos do Bradesco; Bruno Bianchi, diretor comercial do Itaú BBA; Marcos Caielli, diretor de Produtos Imobiliários da B3; e Rodrigo Wermelinger, diretor executivo de Habitação da Caixa, para debater os desafios do setor financeiro.
Julio Paixão, do Bradesco, ressaltou a importância da lei do distrato e da alienação fiduciária, fundamentais para o bom desempenho do setor. “Temos que dar continuidade nestes movimentos que são alicerces.”
Bruno Bianchi falou sobre o cenário macroeconômico positivo, com taxa de desemprego baixa, aparente fim do ciclo de alta dos juros, além de inflação e preço de commodities em queda. “Temos visto uma recomposição de renda. A população empregada no mercado formal vem crescendo. Voltamos a ter uma massa salarial de renda semelhante a que tínhamos antes da pandemia.”
O diretor de produtos imobiliários da B3, Marcos Caielli, destacou a resiliência do setor demonstrada durante a pandemia e os bons fundamentos para o mercado continuar crescendo. “Sou um otimista. Devemos fazer o nosso papel e cobrar dos governantes responsabilidade fiscal para que possamos continuar tendo um ambiente favorável”.
Rodrigo Wermelinger, diretor executivo de Habitação da Caixa, apresentou dados do crédito imobiliário do banco, elogiou o salto de qualidade nos produtos do programa Casa Verde e Amarela, e destacou o crescimento da demanda por empreendimentos sustentáveis. “Temos 65,9% de market share, 6,2 milhões de contratos ativos, e mais de 106 bilhões contratados em crédito imobiliário em 2022. Quando olhamos o painel de instrumentos focados no mercado imobiliário, vemos mais indicadores verdes que vermelhos. 2023 deve ser favorável devido ao défict habitacional existente e as condições que a Caixa oferece.”
Estoque de imóveis com base no valor transacionado
Na sequência do Incorpora, Cristina Della Penna, CEO da Dataland, apresentou um estudo inédito sobre evolução do preço do m2 e análise dos estoques de imóveis novos na capital paulista com base no valor transacionado.
Transformação digital
O penúltimo painel foi um pitch sobre transformação digital e contou com apresentações de Flaviano Galhardo, presidente da ARISP; Cleber Francischini, head de produto na Senior Sistemas; e Leandro Capozzielli, CEO do Infinitibank.
Flaviano Galhardo falou sobre a aprovação da Lei 14.382/2022, que instituiu o SERP – Sistema Eletrônico de Registros Públicos e os benefícios trazidos por ela, como redução dos prazos de registro; certidões eletrônicas em até 4 horas em âmbito nacional; visualizações de matrículas “full time”, entre outros.
Cleber Francischini e Leandro Capozzielli apresentaram os serviços e praticidades oferecidos pela Senior/Mega Sistemas e Infinitibank, respectivamente.
ESG – Pacto Global
O encerramento do Incorpora 2022 foi marcado pela assinatura do termo de adesão da ABRAINC ao Pacto Global. Luiz França, presidente da ABRAINC; Carlo Pereira, presidente do Pacto Global Brasil, e Elie Horn, fundador da Cyrela, participaram do painel.
O Pacto Global é um chamado para as empresas alinharem suas estratégias e operações aos Dez Princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção e desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade. É hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil participantes, entre empresas e organizações, distribuídos em 70 redes locais, que abrangem 160 países.
Após assinar o termo de adesão à iniciativa, o presidente da ABRAINC afirmou que todas as incorporadoras Associadas estão trabalhando na redução das emissões de carbono e preservação do meio ambiente. “Não basta assinar um papel, é preciso se comprometer”.
Elie Horn, fundador da Cyrela, participou virtualmente e finalizou o evento com um notável testemunho sobre a importância da filantropia para o enfrentamento às desigualdades sociais e construção de um mundo mais justo para todos.
Redação ABRAINC
Fotos: Túlio Vidal